O Pudim de Minha Mãe
Minha mãe não é la uma cozinheira de mão cheia. Nos fins de semana, na folga da empregada, ou a gente come fora (99,9%) das vezes, ou ela requenta a comida do sábado. Inclusive deixando na panela as casquinhas de um feijão agonizante, e a gordura do bife duro frito.
Não preciso de detalhes mais embrulhadores de estômago que esses, poupar-vos-ei de um fastio doentio.
Há no entanto, um único prato, uma simples e prosaica sobremesa, que ninguém, no mundo inteiro, nem Ferran Adrià, consegue fazer com a consitência, sabor e equilíbrio com que ela faz: o pudim.
Esqueça o que você conhece por esse nome. Nenhum de vocês conhece a pontecialidade dessa arte da culinária.
Sabe o pudim cheio de furinhos com gosto de ovo que servem nos restaurantes a não menos que abusivos R$ 2,50?
Ao conhecer o da minha mãe isso vira mais é uma extorsão flagrante, dolosa e inafiançável.
Uma cor branco-dourada uniformizada, calda de açúcar na medida certa, um sabor doce que jamais enjoa (desafio a mim mesma a comê-lo inteiro sem me traumatizar)... Nós, aqui em casa, temos fama de ratinhos segundo a empregada, eu como várias vezes por dia uns bocadinhos, meu irmão, fatias generosas algumas vezes ao dia, meu pai, metade dos pratos em dois turnos.
E nós quatro comemos em algumas horas esse segredinho doce de família.
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