Jenifer Leão

Wednesday, October 31, 2007

Consulta Médica

Isso me aconteceu há alguns dias. Foi mais uma das situações “programa de índio” da vida, aqueles programas que você têm certeza que é furada mas vai por falta de algo melhor pra fazer. Se bem que para tratar de saúde, o melhor mesmo é desmarcar tudo na agenda, e estar mais uma vez à disposição dos senhores de jaleco. Porque paciente tem mesmo é que ser muito paciente e desocupado para esperar para que a autoridade médica lhe faça um brevíssimo exame, rabisque palavras ilegíveis num formulário de requisição de exame e lhe despeça. “Me traga os exames o mais rápido possível.” (Sim. Claro, eu não tenho compromissos. Sim senhor, o mais rápido que EU puder, você, espere. A saúde ou doença é minha mesmo! Só se tornou da sua conta, porque eu quis, o escolhi entre os médicos listados no guia de serviços do meu plano de saúde.)

Mas vamos ao dia específico. Tinha aula de jornalismo opinativo, mas não só aula, entrega de trabalhos também, como se vê, existem poucos, mas aquele era um dia “infaltável”. Tudo bem. Dirijo-me à clínica oftalmológica. Lá chegando descubro que em vez de 14h30, meu horário era de 15h45. Meu pai quem marcou e se enganou. Primeira mancada. “Achei estranho. Porque a doutora só chega de 15h” disse a atendente. (Estupendo! Três horas da tarde? Que raio de almoço demorado, é esse?). Antes de qualquer expressão de desagrado, minha atenção foi captada pela tela de plasma atrás do balcão. Uma linda loira ao piano, voz grossa e áspera, instrumentistas virtuosos espalhados num palco à meia-luz. Passava “Diana Krall – Live in Paris”. Olhei ao meu redor, o clima ambiente era acolhedor, o sofá aconchegante, tudo branco. Sentei-me e pensei “bom, tenho apostilas e a revista Época da semana para ler. Acho que nesse clima, e com esse soft jazz no fundo, não será muito torturante esperar.”

Não preciso nem dizer que esse clima chill out não durou muito. Começaram a chegar turbas de pacientes. Em minutos, a sala de espera lotara. Eram idosos, casais, meninos e mães, crianças, avós. E um tipo mais pitoresco. Eram os recém-operados de catarata. Esses chegavam com uma prótese plástica cheia de buraquinhos grudada com esparadrapo no rosto. Estranhamento e humor permeavam minha leitura.

Termina a Diana. Volta ao menu. Inicia automaticamente. Lá vou eu em minha segunda audição. Os médicos chegam. A sala enche. Faltam duas pessoas a minha frente. Sento. Da apostila para revista, da revista para a TV, da TV para as crianças irrequietas. De novo, o show em Paris termina. “Quando é minha vez?” pergunto. “Jenifer, o pai da doutora não está se sentido bem. Nós tivemos que passar na sua frente esse senhor, mas ele foi o último que ela atendeu.” (Ah, e tem mais): “Podemos remarcar para sexta pela manhã?” (Absolutamente, claro, sexta pela manhã, ou segunda? Que tal no horário do meu estágio? Não quer tomar meu horário de almoço? Que tal então minhas horas de sono?). “Não posso. Remarque para a próxima terça, lá pras 17h.” Quem sabe agora eu não precise perder aula.

Ah, e hoje é quarta da semana seguinte. Eu não fui à clínica.