Jenifer Leão

Wednesday, June 04, 2008

A globalização da informação e novas formas de sociabilidade virtual

A expansão da internet no Brasil se deu em meados dos anos 90, quando uma grande parcela de brasileiros se conectou, pela primeira vez, à rede mundial de computadores. O som característico da discagem telefônica, o número fixo ocupado, a restrição do uso aos horários de pulso único eram as características que marcavam o acesso à internet residencial no fim do século passado. Com o avanço das tecnologias da informação – a disseminação das conexões em alta velocidade (a cabo, ADSL, rádio), a oferta de conteúdo exclusivo e multimídia, a popularização dos sites de relacionamento – aumenta a qualidade da experiência virtual e o tempo de conexão. O Brasil é o país onde os internautas passam mais tempo conectados. Pesquisa do IBOPE/NetRatings mostrou que, em maio do ano passado, o tempo de navegação individual dos usuários residenciais subiu para 20 horas e vinte e cinco minutos.

Uma coisa permaneceu constante durante todo o processo de implantação da internet no País: as críticas à chamada “sociedade de rede”. O novo padrão de interação social preocupou sociólogos, comunicadores e toda a sorte de pesquisadores acadêmicos que agora se debruçavam sobre o microcosmo instalado entre a tela de computador e o usuário. Comunidades virtuais, intercâmbios sociais via web e representações sociais se tornaram conceitos comuns aos estudos dedicados a Rede de Alcance Mundial ou World Wide Web.

“A internet foi acusada de induzir gradualmente as pessoas a viver suas fantasias on-line, fugindo do mundo real, numa cultura cada vez mais dominada pela realidade.” Manuel Castells

As primeiras pesquisas sobre os usos da internet realizadas pelos teóricos americanos Anderson e Tracey revelam que a incorporação da tecnologia ao cotidiano resultou num processo de instrumentalização do meio. Pesquisas de trabalho, consultas pontuais, contatos com o círculo social resumem os principais objetivos do internauta típico. “O e-mail representa mais de 85% do uso da internet, e a maior parte desse volume relaciona-se a objetivos de trabalho, a tarefas específicas e a manutenção de contato com a família e os amigos em tempo real.” ¹

Críticas à encenação de papéis e construção de identidades falsas, na maioria das vezes, dizem respeito a um público internauta específico: os adolescentes. Bate-papos, RPGs on-line, Second Life, Avatars são programas largamente utilizados por jovens, por motivos anteriores ao nascimento da internet. Na puberdade, meninos e meninas passam por uma transformação súbita, um verdadeiro redemoinho de hormônios que causam rupturas identitárias e de valores no período muito curto de tempo. Os testes de interação social, com a conseqüente incorporação a grupos e valores constituem práticas fundamentais no processo de formação do sujeito adulto. A predisposição a testar várias personalidades no ambiente virtual é mais uma ferramenta à serviço da experiência que já era inerente ao amadurecimento pessoal.

O isolamento social muitas vezes foi apontado como uma das piores conseqüências da popularização da internet. Dizia-se que indivíduos sem face estão praticando uma sociabilidade aleatória, abandonando ao mesmo tempo interações face a face em ambientes reais. Estudos recentes demonstram que o limiar entre o saudável e o nocivo está na freqüência do uso. Usuários moderados e competentes comprovadamente “freqüentam mais eventos de arte, liam mais literatura, viam mais filmes, assistam mais esportes e praticavam mais esportes que os não-usuários.” (p.99)

Já usuários viciados e insensatos tendiam a perder envolvimento social com familiares e amigos, elevando seus níveis de depressão e solidão.

A perda do senso de coletividade territorialmente delimitada precede a chegada da sociabilidade virtual. O crescimento das cidades, a especialização profissional, a onipresença dos meios de comunicação provocaram mudanças na configuração das relações sociais. A individualização da sociedade é um processo contínuo que deslancha com a metropolização dos municípios e se acentua com as possibilidades da interação virtual. “não é a internet que cria um padrão de individualismo em rede, mas seu desenvolvimento que fornece um suporte material apropriado para a difusão do individualismo em rede como a forma dominante de sociabilidade.” (p. 109)

A própria existência das comunidades idílicas, integradas e harmônicas é contestada por muitos autores sérios. A principal objeção a esta idéia refere-se à razão motriz que leva indivíduos a compartilharem momentos. Claude Fischer, quando analisou os padrões de interação social na sociedade americana, identificou “que as pessoas já não formavam laços significativos em sociedades locais, não por falta das raízes espaciais, mas por selecionarem suas relações com base em afinidades.” (p.106)

Esta tendência natural é potencializada pelas comunidades instrumentais oferecidas pelos portais de conteúdo. Grupos de debates com interesses afins, salas de bate-papo discriminadas por região, programas de TVs ou opção sexual, a internet disponibiliza inúmeras ferramentas para públicos cada vez mais segmentados.

Os serviços virtuais também oportunizam o contato com conhecidos e parentes distantes. As páginas pessoais, lista de e-mails favorecem a troca de informações. Por isso “a internet eficaz na manutenção de laços fracos, que de outra forma seriam perdidos no cotejo entre o esforço para se envolver em interação física (inclusive interação telefônica) e o valor da comunicação.” (p.108) Protagonista das páginas personalizadas, o Orkut segue esta filosofia da rede de amigos. Os usuários disponibilizam em sua página dados pessoais, interesses e afinidades, e principalmente, uma lista extensa de amigos. Pessoas com quem travaram conhecimento significativo, freqüente, esporádico e mesmo momentâneo são adicionadas a lista, demarcando o nível de popularidade do internauta.

CASTELLS, Manuel. “A Galáxia da Internet”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

Meio virtual: agilidade, interatividade e multimídia

Pesquisa realizada pelo Ibope/NetRatings em 2005 revela alguns dos hábitos de navegação do usuário comum: 69% das pessoas que recebiam uma notícia pela internet procuravam mais detalhes em outros veículos. Dos que buscavam mais informações, 74% consultavam outros sites na internet, 53% esperavam para ver a matéria na TV, 48% liam os jornais do dia seguinte, 33% preferiam a revista, e apenas 11% buscavam o rádio como fonte de notícias.

Confirmando os parâmetros clássicos do jornalismo impresso, que recomendam atenção especial ao título da matéria, os usuários afirmaram que o que mais chama a atenção na cibernotícia é o seu título (30%) seguindo pela chamada de capa (25%) e pelo conteúdo (20%). Esses três itens devem ser capazes de despertar o interesse de qualquer (ciber) leitor ao primeiro acesso.

Agilidade

Com o excesso de comerciais, programas de má qualidade e falta de investimentos e planejamento, o departamento de jornalismo das redações de radiojornais vem perdendo o prestígio vertiginosamente. Antes alçado à condição de arauto das notícias, onde as informação chegavam ao ouvinte em primeira mão, o rádio já não goza da mesma popularidade que tinha no meio do século passado. Nos 2000, proliferaram os sites noticiosos, que prometiam fornecer informações “minuto a minuto”, no “último segundo”, “24 horas”, sobre todas as novidades da cidade durante todo o dia. Hoje, já plenamente consolidado, o jornalismo virtual ocupou lugar de honra entre os veículos tradicionais, e mesmo com falhas de apuração devido à agilidade da veiculação e à busca pelo furo, sai em vantagem quando se fala em comodidade e custos. É mais cômodo que o rádio, pois o internauta não fica preso ao horário da programação, vai em busca da informação exata na hora em que deseja. Para muitos, a internet é ainda mais vantajosa que o meio impresso, que além de levar um dia inteiro para passar a informação, custa um valor determinado na banca de revista.

Multimídia global

A notícia virtual assumiu um caráter ágil, interativo e multimidiático. Rompeu as limitações dos meios de comunicação existentes e fundiu num suporte único todas as vantagens das invenções anteriores. Antes das visualizações e trocas de arquivos entre computadores conectados à grande rede, os usuários já usufruíam há alguns anos dos softwares de manipulação de conteúdo multimídia incluídos no sistema operacional. Músicas e gravações em áudio, videoclipes, filmes, gravações caseiras, programas de texto, tudo era salvo com tamanhos gigantescos na pasta particular Meus Documentos. O advento da internet modificou essa prática “culturalmente egoísta” de tratar as produções individuais. Novos formatos de arquivo, cada vez mais comprimidos surgiram para otimizar a transferência virtual (upload ou download). O intercâmbio e a troca de arquivos assumiram proporções inimagináveis, o que desencadeou uma corrida frenética por conexões mais rápidas com taxas de transmissão ainda mais velozes.

Sem entrar no mérito das cópias ilegais, voltemos à análise da notícia virtual ou cibernotícia. As possibilidades deste gênero jornalístico são infinitas, o que não quer dizer que a internet não tenha suas limitações de ordem prática. Longos textos como os de reportagens impressas estão quase completamente abolidos do jornalismo digital cotidiano.

Por isso, a internet trouxe o texto próprio, adequado aos hábitos de leitura no computador – o hipertexto. Povoado de hiperlinks, o hipertexto exige uma participação mais ativa do leitor, que escolhe o que vai ler, em que ordem e em que site. Ele é soberano para decidir se vai se aprofundar ou satisfazer-se com os poucos parágrafos.

Para superar uma possível carência de dados, a matéria deve ser dividida em blocos de texto, no estilo pirâmide invertida, pode fornecer uma lista de chamadas com as notícias mais recentes relacionadas ao assunto, trazer sites de instituições para maior aprofundamento, arquivos de texto, áudio e vídeo para download, tornando quase infinitos os recursos que podem ser adicionados à página.

Dinamismo e interatividade

Sites dinâmicos convidam o internauta a um encontro mais agradável e a um relacionamento mais duradouro. O próprio navegar na internet exige movimentação e seleção. Ferramentas de busca, reprodutor de conteúdo audiovisual manipulável, campo para cadastro de clientes, o usuário quer sentir que pode controlar e personalizar a sua navegação. Com um site desatualizado, layout ineficiente e estático só resta uma certeza: ele será visitado uma única vez.

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