Jenifer Leão

Wednesday, June 04, 2008

Relatório de Estágio - Experiência e Aprendizado na TV Pajuçara

1. A ESTRUTURA DO TELEJORNAL

A produção de telejornal é provavelmente, a tarefa mais estressante da linha de montagem da televisão. Cabe à produção, uma série importante de decisões que determinam a direção do trabalho de todos os atores envolvidos na composição do telejornal. Tudo começa pela seleção do fato que, por sua abrangência, atualidade e potencial imagético, vai se transformar num VT clássico: off-passagem-sonora.

Há outros acontecimentos que serão reportados mas, quer pelo menor peso jornalístico ou por falta de tempo e logística, os editores os transformarão em notas cobertas (por imagens) ou peladas (sem imagens), stand-up (passagem mais longa do repórter no local do fato) ou loc vivo (imagens e locução ao vivo do apresentador).

Todo o esforço heróico se justifica: os telejornais noturnos detêm os maiores índices de audiência em todas as emissoras e grupos de comunicação. Por definição, eles resumem os principais fatos do dia, e uma omissão ou apuração deficiente, principalmente para o telespectador que assiste a mais de um telejornal, é fatal para a credibilidade do veículo.

No telejornal apresentado por Zélia Cavalcante, há espaço para uma média diária de sete matérias, no modelo padrão: passagem, off e sonoras, e algumas notas, entre as cobertas, peladas e notapés. O foco da cobertura são as “notícias duras” que, ainda segundo Alfredo Vizeu, podem perder a atualidade se não forem dadas, como uma sessão de CPI dos precatórios ou uma blitz policial. Em segundo plano, entram as notícias de serviços, que visam orientar o telespectador-cidadão sobre direitos e deveres.

Cerca de 15 profissionais atuam na produção, reportagem e edição do jornal. O tempo é ínfimo. A pressa e o dever de entregar o trabalho muitas vezes impossibilitam qualquer investigação mais acurada. Mas isso é um lugar-comum presente em todos os manuais de jornalismo

a. Linha editorial

O Jornal da Pajuçara Noite, assim como os demais jornais noturnos, fazem uma retrospectiva dos fatos mais importantes do dia, sendo freqüente, que tenham conteúdos idênticos, pois os critérios de escolha das matérias em destaque, parecem ser compartilhados por um bom número de produtores.

2. PRODUÇÃO

A. SELECIONANDO A NOTÍCIA

“O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos. Seu trabalho se pauta pela apuração precisa dos acontecimentos e sua correta divulgação. Não se pode, mesmo sob a pressão do deadline, deixar de apurar uma informação até o fim.”

verbete: Apuração - Manual de Telejornalismo Rede Record

Aparentemente é uma rotina repleta de imprevistos e reviravoltas, mas o conhecimento e a experiência que o produtor vai acumulando acabarão por conduzir o trabalho a uma sistematização e planejamento de cobertura relativamente estáveis. Importante contribuição nesse sentido encontra-se na leitura de “A Reportagem: Teoria e Técnica de entrevista e pesquisa jornalística”, do pesquisador Nilson Lage. Para ele, todos os fatos sociais jornalisticamente relevantes podem ser enquadrados em quatro tipos:

a) Eventos programados: julgamento de acusados, votações em assembléias, inaugurações de obras e os sazonais: início de ano letivo, vendas de fim de ano, mobilização de bóias-frias para a colheira etc.

Exemplos disso foram as matérias sobre o caso Fernando Aldo, as assembléias do Sindicato dos Policiais Civis (Sindpol), orientações do Procomun sobre a compra de material escolar, aquecimento no comércio etc.

b) Eventos continuados: greves, festejos, pontos de estrangulamento no trânsito.

Também aí há fartos exemplos: greve dos servidores estaduais: Movimento Unificado da Saúde, dos Policiais Civis, delegados, professores; as obras da prefeitura e os transtornos para os motoristas etc.

c) Desdobramentos (suítes): acompanhamento de investigações policiais, recuperação de vítimas de atentados ou acidentes, repercussão de medidas econômicas.

Exemplos: Operação Taturana, Carranca, Navalha, Sururu, Saturação; O aumento do salário mínimo e a injeção de recursos na economia local etc.

d) Fatos oriundos da observação direta: mudanças de costumes, ciclos da moda, deterioração ou recuperação de zonas urbanas.

Apesar de dedicar-se originalmente ao jornalismo impresso, Mário Erbolato estabelece critérios para a classificação da notícia que são inerentes a formação da pauta de todos os meios de comunicação. Em “Técnicas de Codificação em Jornalismo”, ele traça o panorama mais abrangente sobre as características que elevam um fato do cotidiano à categoria de assunto de interesse público.

(p.61)

“Proximidade (...) eventos que ocorrem perto do leitor e a ele ligados.”

Marco geográfico: fato que ocorre em outro lugar mas gera conseqüências na realidade local.

“Impacto: (...) acontecimentos chocantes ou impressionantes”

“Proeminência: tudo o que se refere a pessoas importantes encontra interessados”

Aventura e conflito: assassinatos, rixas, golpes

Conseqüências: será publicado quando puder afetar o País

Humor: história escabrosas e divertidas

Raridade: foge da rotina, são fatos diferentes e inusitados.

Progresso: melhorias na qualidade de vida

Sexo e idade: sensacionalismo

Interesse pessoal: serviço

Interesse humano: buscar nas experiências de pessoas que vivenciaram o evento, encontrando nesses relatos emocionados um complemento para a frieza das estatísticas

Importância: a amplitude das repercussões do fato determinam sua relevância

Rivalidade: explora o antagonismo de competições, partidos;

Utilidade: atendem estreita faixa da população; tem interesse restrito mas seguro

Política editorial do jornal: tema que o jornal destaca ou omite

Oportunidade: é o gancho da matéria, o desdobramento recente que atualizará informações previamente apuradas

Dinheiro: loteria acumulada, vida dos ricos

Expectativa ou suspense: quando a cobertura continuada da história desperta o interesse e a identificação do público que fica aguardando os desdobramentos do fato

Originalidade: confunde-se com raridade, mas tem uma dose de místico

Culto de heróis: gestos de patriotismo e de bravura de homens

Descobertas e invenções: cura de doenças e aparelhos eletrônicos

Repercussão: acontecimentos que envolvem brasileiros em outros lugares

Confidências: assunto de paparazzi, da cobertura da estrelas

B. AS FONTES

A disseminação do uso da internet, a saturação das redações dos veículos tradicionais, as limitações de tempo do jornal e da TV em menor grau, as dificuldades técnicas dos radiojornais em freqüência AM, tudo contribuiu para a implantação e o sucesso dos sites noticiosos. Alagoas 24 Horas, Tudo na Hora, AL em Tempo Real, Alagoas Agora, Primeira Edição são as principais fontes de notícias na hora em que o produtor está procurando a pauta factual.

Como são produzidos no curtíssimo espaço de tempo, com a intenção declarada de dar furos em outros veículos, as notícias dos sites são os textos mais sujeitos à verificação de informações. Eis o que outro verbete do Manual de Telejornalismo diz sobre apuração: “Desconfie sempre da notícia divulgada por terceiros. Apure, apure e apure.” P.25. E sobre Internet: “Na maioria dos sites, a cobrança por um grande número de notícias, em pouco tempo, conduz os profissionais desse setor ao erro.” P.26

Outro recurso é a caixa de mensagens da redação. Abarrotada de releases de instituições públicas, empresas privadas e de entidades do terceiro setor, um e-mail redacao@pajucara.com recebe uma média diária de 15 sugestões de pauta. Embora pouco utilizadas, as mensagens institucionais já salvaram a pele de muito produtor em final de expediente.

É possível traçar uma linha do tempo da divulgação de notícias. Pelo menos as mais polêmicas, que geralmente rendem coletiva de imprensa. Portanto, na cobertura dos fatos mais quentes do dia os rádios vencem a corrida seguidos de perto pelos sites noticiosos, guias freqüentes da produção das televisões que, por sua vez, ditam as matérias de capa dos jornais do dia seguinte.

A agenda de telefones, item precioso do produtor, geralmente entra como fonte de informação em momento mais críticos, em que nada de relevante acontece e é necessário se desdobrar em especulações e observações pessoais para dar origem a uma pauta. Após formular a suposição é hora de telefonar para a fonte, confirmar a suspeita sob o foco pré-estabelecido, ou numa conversa informal descobrir outras situações que rendem matéria.

O banco de pautas é a memória do telejornal. Seu arquivo, a memória de eventos acompanhados pelo foco, contatos e informações importantes. Costuma ser utilizado em matérias suitadas, que abordam o desdobramento de um fato e necessitam de uma breve retrospectiva que é dada pela pauta anterior.

Jornais impressos, os últimos na cadeia de transmissão de informações dos meios, não vivem apenas de notícia velha, muitas vezes antecipam acontecimentos que não podem passar despercebidos ao olho atento do produtor.

Ausência de rádio-escuta: na redação há um rádio que fica ligado boa parte do tempo, mas não é fonte primária de interesse. Não há um profissional exclusivamente atento a este meio, produzindo relatórios e sugerindo matérias, figura comum em redações de jornais. Geralmente o humilde aparelho fica ligado, e se surgir algum assunto de última hora no noticiário virtual, freneticamente sintoniza-se várias freqüências, em busca da cobertura do assunto. É item indispensável, quando muda-se o rumo da cobertura e o itinerário do repórter. Quando o produtor subsidia a equipe na rua com informações pelo telefone celular.

A ronda pelas fontes: Recurso que consiste em ligar com regularidade para as fontes em busca de informações que possam render pauta. É atividade rara na rotina da redação da Pajuçara, é instrumento usado quando se questiona a ocorrência de um desdobramento possível de fato já noticiado.

C. PROCEDIMENTOS PARA A APURAÇÃO

Contatos: Feitos por telefone, o produtor e estagiários coletam as informações iniciais com o entrevistado. O repórter precisa ter uma noção clara de matéria em questão, da abordagem a ser utilizada, das perguntas relevantes e das possíveis imagens.

Há uma lista de 10 pontos a serem preenchidos na pauta padrão da TV Pajuçara:

  • Retranca: duas ou três palavras chaves. Deve ser idêntica durante todo o processo para evitar confusões e erros: da produção pauta, à redação da matéria, à ordenação das matérias no espelho.

  • Jornal: JPN, ou seja, Jornal da Pajuçara Noite. Apesar de que, “99,997% das matérias que compõe o JPN são reprisados no Jornal da Pajuçara Manhã” segundo o editor-geral Marcus Toledo.

  • Data e hora: data de amanhã e o a hora da primeira entrevista. Há dois horários padrão para as reportagens. Pela manhã são às 8h30 e às 10h e à tarde de 14h30 e 16h. Sujeitos a todo tipo de imprevisto, esses horários são pouco cumpridos e é freqüente a produção, ligar para o entrevistado, ora avisar do atraso do repórter ou mesmo cancelar o encontro.

  • Entrevistados: Hora da entrevista. Nome do entrevistado. Cargo, função ou profissão e número de contato. Se houver, na pauta deve constar o contato do assessor de imprensa.

  • Local: Por ordem cronológica são dispostos os locais, endereços e pontos de referências onde os entrevistados se encontram à hora marcada.

  • Foco: assunto principal da matéria; funciona como um título

  • Fato: composta das circunstâncias do acontecimento dispostas em ordem decrescente de importância. Quando há entrevistas com personagens, a pauta traz um breve relato da relação da pessoa com o assunto principal.

  • O que queremos: é um misto de direcionamento e justificativa para a matéria. Qual o interesse público contido no assunto, o que deve ser mostrado, o que precisa ser explicado. Traz também dúvidas. Dados que, por qualquer motivo, não puderam ser conhecidos no momento da apuração. Dependendo do horário da ligação, do expediente do entrevistado (em caso de fontes oficiais), do tempo apertado e de uma série de outros fatores, não é incomum que a lista de perguntas para as sonoras, ocupem várias linhas. As dificuldades da apuração serão melhor explicitadas no capítulo seguinte.

  • Sugestão de imagens: muitas vezes relegada a segundo plano, as imagens são a verdadeira essência do telejornalismo. É o que define e diferencia este modo de produção dos demais meios. Não se resume apenas ao banal “gerais e de apoio”. Há pequenos detalhes, passagens do texto, que precisam de correspondentes visuais. Nem o repórter, preocupado com as marcações e a passagem, ou o cinegrafista que raramente tem contato com a pauta, trazem boas imagens para a redação, fazendo o inferno para os editores de imagem.

  • Anexos: traz informações secundárias que auxiliam o repórter a contextualizar e entender o foco da matéria. Oriundos de pesquisa na internet ou de pautas anteriores, o campo anexos contém excertos de leis, documentos de consulta, ou retrospectiva dos fatos.

D. DIFICULDADES E PECULIARIDADES DA PRODUÇÃO VESPERTINA

A orientação básica da produção na TV Pajuçara é fornecer o máximo de informações possíveis, subsidiar o repórter com todas as nuances do fato e sugerir um direcionamento para o mar de dados coletados.

A voz é responsável por apenas 25% da comunicação humana. A apuração por telefone é física e limitada.

Claro que às vezes é impossível cumprir à risca a norma, pois no dia-a-dia encontramos dificuldades que não estão explicitadas em nenhum manual de jornalismo. Habitualmente ligamos para fontes que estão no trânsito, em reunião, muito ocupadas para atender, que estão em casa e não tem acesso aos documentos no trabalho, ou que simplesmente não nos atendem. Para a loucura de qualquer produtor são situações que derrubam qualquer boa-vontade ou boa matéria.

As conseqüências dessas dificuldades são, no mínimo, uma pauta deficiente. Falta informação, as poucas que existem estão confusas ou truncadas, o foco perde nitidez, e uma série de outras deficiências que o repórter deve contornar, mas que são inevitáveis em certos momentos de azar.

i.Vícios e erros comuns

O produtor é um verdadeiro estrategista da redação. Planeja a cobertura, sugerindo foco, marcando entrevistas, e ainda sugerindo imagens. Envolve uma certa noção de logística para coordenar tempo e locações que a equipe deve cumprir. Cito como exemplo uma pauta sobre DENGUE/PERIGO em que havia vários malabarismos entre bairros distantes, transporte de entrevistados, situação agravada pelo trânsito caótico do primeiro trimestre de 2008. Conseqüência previsível, não houve tempo de fazer a outra pauta, sobre a convocação da reserva técnica do concurso dos policiais militares. Isso um dia depois, de a Assembléia ter arquivado a mensagem de redução do duodécimo, uma economia de 30 milhões dos quais metade iria para a Defesa Social, e segundo o então secretário da pasta, Paulo Rubim, seria diretamente aplicado para a incorporação de mil aprovados.

A globalização da informação e novas formas de sociabilidade virtual

A expansão da internet no Brasil se deu em meados dos anos 90, quando uma grande parcela de brasileiros se conectou, pela primeira vez, à rede mundial de computadores. O som característico da discagem telefônica, o número fixo ocupado, a restrição do uso aos horários de pulso único eram as características que marcavam o acesso à internet residencial no fim do século passado. Com o avanço das tecnologias da informação – a disseminação das conexões em alta velocidade (a cabo, ADSL, rádio), a oferta de conteúdo exclusivo e multimídia, a popularização dos sites de relacionamento – aumenta a qualidade da experiência virtual e o tempo de conexão. O Brasil é o país onde os internautas passam mais tempo conectados. Pesquisa do IBOPE/NetRatings mostrou que, em maio do ano passado, o tempo de navegação individual dos usuários residenciais subiu para 20 horas e vinte e cinco minutos.

Uma coisa permaneceu constante durante todo o processo de implantação da internet no País: as críticas à chamada “sociedade de rede”. O novo padrão de interação social preocupou sociólogos, comunicadores e toda a sorte de pesquisadores acadêmicos que agora se debruçavam sobre o microcosmo instalado entre a tela de computador e o usuário. Comunidades virtuais, intercâmbios sociais via web e representações sociais se tornaram conceitos comuns aos estudos dedicados a Rede de Alcance Mundial ou World Wide Web.

“A internet foi acusada de induzir gradualmente as pessoas a viver suas fantasias on-line, fugindo do mundo real, numa cultura cada vez mais dominada pela realidade.” Manuel Castells

As primeiras pesquisas sobre os usos da internet realizadas pelos teóricos americanos Anderson e Tracey revelam que a incorporação da tecnologia ao cotidiano resultou num processo de instrumentalização do meio. Pesquisas de trabalho, consultas pontuais, contatos com o círculo social resumem os principais objetivos do internauta típico. “O e-mail representa mais de 85% do uso da internet, e a maior parte desse volume relaciona-se a objetivos de trabalho, a tarefas específicas e a manutenção de contato com a família e os amigos em tempo real.” ¹

Críticas à encenação de papéis e construção de identidades falsas, na maioria das vezes, dizem respeito a um público internauta específico: os adolescentes. Bate-papos, RPGs on-line, Second Life, Avatars são programas largamente utilizados por jovens, por motivos anteriores ao nascimento da internet. Na puberdade, meninos e meninas passam por uma transformação súbita, um verdadeiro redemoinho de hormônios que causam rupturas identitárias e de valores no período muito curto de tempo. Os testes de interação social, com a conseqüente incorporação a grupos e valores constituem práticas fundamentais no processo de formação do sujeito adulto. A predisposição a testar várias personalidades no ambiente virtual é mais uma ferramenta à serviço da experiência que já era inerente ao amadurecimento pessoal.

O isolamento social muitas vezes foi apontado como uma das piores conseqüências da popularização da internet. Dizia-se que indivíduos sem face estão praticando uma sociabilidade aleatória, abandonando ao mesmo tempo interações face a face em ambientes reais. Estudos recentes demonstram que o limiar entre o saudável e o nocivo está na freqüência do uso. Usuários moderados e competentes comprovadamente “freqüentam mais eventos de arte, liam mais literatura, viam mais filmes, assistam mais esportes e praticavam mais esportes que os não-usuários.” (p.99)

Já usuários viciados e insensatos tendiam a perder envolvimento social com familiares e amigos, elevando seus níveis de depressão e solidão.

A perda do senso de coletividade territorialmente delimitada precede a chegada da sociabilidade virtual. O crescimento das cidades, a especialização profissional, a onipresença dos meios de comunicação provocaram mudanças na configuração das relações sociais. A individualização da sociedade é um processo contínuo que deslancha com a metropolização dos municípios e se acentua com as possibilidades da interação virtual. “não é a internet que cria um padrão de individualismo em rede, mas seu desenvolvimento que fornece um suporte material apropriado para a difusão do individualismo em rede como a forma dominante de sociabilidade.” (p. 109)

A própria existência das comunidades idílicas, integradas e harmônicas é contestada por muitos autores sérios. A principal objeção a esta idéia refere-se à razão motriz que leva indivíduos a compartilharem momentos. Claude Fischer, quando analisou os padrões de interação social na sociedade americana, identificou “que as pessoas já não formavam laços significativos em sociedades locais, não por falta das raízes espaciais, mas por selecionarem suas relações com base em afinidades.” (p.106)

Esta tendência natural é potencializada pelas comunidades instrumentais oferecidas pelos portais de conteúdo. Grupos de debates com interesses afins, salas de bate-papo discriminadas por região, programas de TVs ou opção sexual, a internet disponibiliza inúmeras ferramentas para públicos cada vez mais segmentados.

Os serviços virtuais também oportunizam o contato com conhecidos e parentes distantes. As páginas pessoais, lista de e-mails favorecem a troca de informações. Por isso “a internet eficaz na manutenção de laços fracos, que de outra forma seriam perdidos no cotejo entre o esforço para se envolver em interação física (inclusive interação telefônica) e o valor da comunicação.” (p.108) Protagonista das páginas personalizadas, o Orkut segue esta filosofia da rede de amigos. Os usuários disponibilizam em sua página dados pessoais, interesses e afinidades, e principalmente, uma lista extensa de amigos. Pessoas com quem travaram conhecimento significativo, freqüente, esporádico e mesmo momentâneo são adicionadas a lista, demarcando o nível de popularidade do internauta.

CASTELLS, Manuel. “A Galáxia da Internet”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

Meio virtual: agilidade, interatividade e multimídia

Pesquisa realizada pelo Ibope/NetRatings em 2005 revela alguns dos hábitos de navegação do usuário comum: 69% das pessoas que recebiam uma notícia pela internet procuravam mais detalhes em outros veículos. Dos que buscavam mais informações, 74% consultavam outros sites na internet, 53% esperavam para ver a matéria na TV, 48% liam os jornais do dia seguinte, 33% preferiam a revista, e apenas 11% buscavam o rádio como fonte de notícias.

Confirmando os parâmetros clássicos do jornalismo impresso, que recomendam atenção especial ao título da matéria, os usuários afirmaram que o que mais chama a atenção na cibernotícia é o seu título (30%) seguindo pela chamada de capa (25%) e pelo conteúdo (20%). Esses três itens devem ser capazes de despertar o interesse de qualquer (ciber) leitor ao primeiro acesso.

Agilidade

Com o excesso de comerciais, programas de má qualidade e falta de investimentos e planejamento, o departamento de jornalismo das redações de radiojornais vem perdendo o prestígio vertiginosamente. Antes alçado à condição de arauto das notícias, onde as informação chegavam ao ouvinte em primeira mão, o rádio já não goza da mesma popularidade que tinha no meio do século passado. Nos 2000, proliferaram os sites noticiosos, que prometiam fornecer informações “minuto a minuto”, no “último segundo”, “24 horas”, sobre todas as novidades da cidade durante todo o dia. Hoje, já plenamente consolidado, o jornalismo virtual ocupou lugar de honra entre os veículos tradicionais, e mesmo com falhas de apuração devido à agilidade da veiculação e à busca pelo furo, sai em vantagem quando se fala em comodidade e custos. É mais cômodo que o rádio, pois o internauta não fica preso ao horário da programação, vai em busca da informação exata na hora em que deseja. Para muitos, a internet é ainda mais vantajosa que o meio impresso, que além de levar um dia inteiro para passar a informação, custa um valor determinado na banca de revista.

Multimídia global

A notícia virtual assumiu um caráter ágil, interativo e multimidiático. Rompeu as limitações dos meios de comunicação existentes e fundiu num suporte único todas as vantagens das invenções anteriores. Antes das visualizações e trocas de arquivos entre computadores conectados à grande rede, os usuários já usufruíam há alguns anos dos softwares de manipulação de conteúdo multimídia incluídos no sistema operacional. Músicas e gravações em áudio, videoclipes, filmes, gravações caseiras, programas de texto, tudo era salvo com tamanhos gigantescos na pasta particular Meus Documentos. O advento da internet modificou essa prática “culturalmente egoísta” de tratar as produções individuais. Novos formatos de arquivo, cada vez mais comprimidos surgiram para otimizar a transferência virtual (upload ou download). O intercâmbio e a troca de arquivos assumiram proporções inimagináveis, o que desencadeou uma corrida frenética por conexões mais rápidas com taxas de transmissão ainda mais velozes.

Sem entrar no mérito das cópias ilegais, voltemos à análise da notícia virtual ou cibernotícia. As possibilidades deste gênero jornalístico são infinitas, o que não quer dizer que a internet não tenha suas limitações de ordem prática. Longos textos como os de reportagens impressas estão quase completamente abolidos do jornalismo digital cotidiano.

Por isso, a internet trouxe o texto próprio, adequado aos hábitos de leitura no computador – o hipertexto. Povoado de hiperlinks, o hipertexto exige uma participação mais ativa do leitor, que escolhe o que vai ler, em que ordem e em que site. Ele é soberano para decidir se vai se aprofundar ou satisfazer-se com os poucos parágrafos.

Para superar uma possível carência de dados, a matéria deve ser dividida em blocos de texto, no estilo pirâmide invertida, pode fornecer uma lista de chamadas com as notícias mais recentes relacionadas ao assunto, trazer sites de instituições para maior aprofundamento, arquivos de texto, áudio e vídeo para download, tornando quase infinitos os recursos que podem ser adicionados à página.

Dinamismo e interatividade

Sites dinâmicos convidam o internauta a um encontro mais agradável e a um relacionamento mais duradouro. O próprio navegar na internet exige movimentação e seleção. Ferramentas de busca, reprodutor de conteúdo audiovisual manipulável, campo para cadastro de clientes, o usuário quer sentir que pode controlar e personalizar a sua navegação. Com um site desatualizado, layout ineficiente e estático só resta uma certeza: ele será visitado uma única vez.