Jenifer Leão

Saturday, August 11, 2007

Baixio das Bestas de Cláudio Assis: anotações

O filme é incompleto, curto.

Os sentidos metafóricos se diluem na narrativa. Nenhuma resposta satisfatória nos é dada sobre o destino dos personagens.

Por isso, não quero ser porta-voz dos anseios de um moralismo cristão à moda de Lucíola de José de Alencar ou Atração Fatal de Adrian Lyne. Anseio é pela estrutura formal, pelos fundamentos do começo meio e fim, mesmo que invertidos, como em Amnésia. É pela falta da coerência dos destinos dos personagens, pela improviso, que Baixio deixa a desejar.

Em Amarelo Manga, a beata que descobre o marido traidor se metamofoseia. É contaminada pela pobreza e tristeza do ambiente em que ela vive, mas que recalcava na religião. Ela tem um fim.

Em Baixio das Bestas, o último sinal de pureza, representado pela jovem explorada pelo avô, se degrada e degenera após um estupro há muito tempo anunciado (ela é a única personagem que tem um fim). O espectador espera nauseantemente o pior. Não faz nenhum sentido que uma moça, exposta daquela forma a todos os caminhoneiros da área, passe imune por todo aquele deserto de cana-de-açúcar. Caio Blat repete o comportamento odioso do adolescente irresponsável de Cama de Gato. Realiza impunemente uma série de crimes que são “abrandados” na sua visão de MMM (menino mimado da mãe).

A fossa que nunca termina, a morte do velho, o destino da prostituta e do vilão ruivo (Nachtergaele) não sabemos ao final qual o carma de cada um. Não há julgamento de valor, de moral, conservadora ou liberal. Situações com um potencial sígnico catártico se perdem em uma sucessão de cenas dispensáveis. A fossa que nunca é concluída, se enfatizada, revelaria que a bosta do mundo permanece mesmo é na superfície. A podridão do mundo.

Aquelas bestas vicejam num interior perdido de Pernambuco, tripudiando sobre cada um dos sete pecados capitais. Sem Deus, sem Alá, sem nada. Só o agora, gozar o agora, estuprar o agora, matar o agora. Estas pessoas existem e são maioria, apesar de estarem a margem da sociedade do consumo, da educação, da saúde, da expressão cultural.

Sou brasileiro e não desisto nunca. É tragicômico esse mote. Blat atropela um ciclista e apreensivo descobre que ele não morreu. Como diz o seu amigo essa gente não morre fácil. Se morresse já tava todo mundo morto.

O naturalismo cru da obra de Cláudio nos remete sempre ao conhecido livro de Aluísio de Azevedo: O Cortiço. O desfile de diversas personagens, cada uma com seus vícios, a presença da figura imaculada, que cedo ou tarde, será maculada pela convivência com esses tipos, o ciclo de perversão hereditária, o homem bom que se degrada pelo meio - o determinismo histórico. Todos são elementos presentes na obra de Cláudio Assis. Uma visão pessismista, mas não menos pessimista que a realidade.

Thursday, August 09, 2007

A personalização do espaço

Os grandes provedores de conteúdo empreendem uma batalha acirrada pelas contas de usuários. MSN e Yahoo! disputam maior capacidade de armazenamento e maior funcionalidade de design em seus serviços de e-mail. Orkut, MySpace, Tagged... é difícil acompanhar a quantidade de paginas de relacionamento lançadas na rede, apesar de o Orkut ter conquistado definitivamente a preferência dos brasileiros. Blogs são o exemplo precursor na democratização da produção de conteúdo. Abrigam desde relatos pessoais a opiniões estéticas e políticas.

Esses são mais alguns exemplos de um fenômeno muito discutido atualmente pelos teóricos da comunicação: a Web 2.0. A mobilização popular virtual adquire inúmeras feições. Vai da contribuição a Wikipedia, primeira enciclopédia exclusivamente produzida pelos seus usuários, ao desenvolvimento de softwares livres, que contam também com a colaboração de programadores do mundo todo.

A publicidade segue uma tendência cada vez mais difusa na atualidade: a personalização (customize). Mala-direta, comerciais de bancos na TV, especialização de serviços, as empresas buscam explorar todas as fatias de mercado com ofertas cada vez mais compatíveis com o universo do consumidor.

“Share Your World With The World”

O amadorismo artístico é a tônica dos sites que armazenam fotografias

Aniversários, animais de estimação, auto-retratos, arte amadora, viagens.... são inúmeros os temas das fotos que pululam na internet todo dia. A WWW em menos de duas décadas revolucionou o modo de se fazer cultura. Cada vez mais internautas expõem o corpo e a alma em páginas online de alcance mundial.

O conceito de interatividade ganha novos exemplos e uma expressão segura no novo meio de comunicação. Servindo como passatempo ou instrumento de trabalho, a internet esfumaçou a linha divisória entre criadores e fruidores de informação. Se antes a interação meio-público confinava-se a escolha dentre três opções do final da história da TV, a seleção do filme pay-per-view e às sondagens de opinião no rádio, hoje pode-se falar que a internet possibilitou um maior equilíbrio na balança comunicativa.

Flickr: Site pertencente ao Grupo Yahoo!, o flickr é o mais novo da safra dos fotolog (log do inglês: colocar informação). Nele é possível fazer o “upload” de fotos dividindo-as em álbuns, escolher as fotos de outros usuários como favoritas, participar de grupos com direito a painel de discussões, entre outros serviços. Antenado com a discussão sobre direitos autorais, o flickr traz uma novidade: a possibilidade de se aderir ao Creative Commons. São quatro os modelos de cessão de direitos autorais: atribuição (uso e edição irrestritos com reconhecimento de autoria), não-comercial (uso e edição irrestritos sem fins comerciais), não a obras derivadas (uso sem edição) e o compartilhamento pela mesma licença (liberando as fotos para aqueles que tiverem licença idêntica a do usuário).

No Fotolog, mais antigo e popular dos blogs de fotografia, o usuário pode postar fotos, ler comentários e exibir o link do fotolog dos amigos em sua página. Essa configuração incentiva a mania e cria sempre mais fotologueiros para o site que possui cerca de 10 milhões de usuários acrescentando 283 mil fotos por dia. “Share your world with the world” é o lema da página incial.

Há também os fotologs dos grandes portais da Internet como o Ig, o Terra e o Globo.com.